Para refletir acerca do que é ser professor...
“Não posso ser professor
se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática
exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de
mim que escolha entre isto e aquilo.
Não posso ser professor a
favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê.
Não posso ser professor a
favor simplesmente do homem ou da humanidade, frase de uma vaguidade demasiado
contrastante com a concretude da prática educativa.
Sou professor a favor da
decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita
ou de esquerda.
Sou professor a favor da
luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação
econômica dos indivíduos ou das classes sociais.
Sou professor contra a
ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na
fartura.
Sou professor a favor da
esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me
consome e imobiliza.
Sou professor a favor da
boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber
que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições
materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se
amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que
cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim
mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar.”
(Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia, São Paulo, Paz e Terra, 2011)
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